quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Casa de Penhores




Les oiseaux vous poursuivent, 1929-1930
[Paul Nougé]


Não sei se sou o que sou, pois sendo deixo de ser. Hipoteco minha certeza ao pensamento que evade. Existo ou coexistem em mim? Tantos de mim ali nos lugares onde eu nunca poderia estar….
Silêncio. Sim, silêncio, o mais rasgado e débil possível,caverna horrorosa e pontuda.
Se sou uma mera projeção disto,uma espécie de acabamento de algo muito maior que as palpitações oriundas de minhas mãos e pés,estou permanentemente inacabado então? Comecei alguma vez ao menos? O que dizer do tino de meu corpo que nasce morrendo em estado de quando for,como a onírica permanência dos astros?

Saturação
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Crédito em parcelas acomedidas e,na maioria das vezes, descabidas.
Afunilamentos por contrato
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Malditas vírgulas que fendas me trazem!
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Malditas fendas que vírgulas me tornam!
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“Inconclusões”,sempre elas. Mil e uma possibilidades de dissolver o ser.
O problema disto não está em si nos fragmentos ilusórios dos descaminhos, que são belos e autênticos aos olhos dos desabrigados, e sim a impertinência do silêncio armado. Quantas poéticas improvisações passaram desapercebidas? Quantas horas douradas naufragaram sem nunca terem deixado o porto? A tragédia conforme gaveta de sapateiro.
Chega um tempo em que “sim” e “não” deixam o estado de palavra para ser fantoches de um jogo maior, ininteligível enquanto processo cronológico. Quando as pestanas tremerem sem frêmitos e sorrisos se esforçarem semi-turvos, tem-se certeza do apuros que trazem, porque estarão neste momento devorando a exatidão que lhes falta.

Veredas de fluxos amassados.

Por fim, as correntes alternam-se ao som dos relógios ainda úmidos de chuva e a noite começa a ser real…

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